Eu, jornalista

Publicado originalmente em 15 de setembro de 2016

Não sei exatamente quando decidi ser jornalista, mas é certo que comecei a exercitar esse gosto nos idos dos anos 90. Meu pai assinava a Folha de S. Paulo e eu “lia” no embalo. Assim, entre aspas mesmo. Aos 10 anos, o que eu fazia de fato era curtir as tirinhas da Folhinha, o caderno de Esportes e a programação de cinema com aqueles cartazes pequenos seguidos dos nomes das salas de cinema da capital onde o filme estava sendo exibido.

Eu recortava todas essas propagandinhas e colava as que mais gostava em uma parte das folhas de papel almaço que meu pai usava para dar aula. A folha era grande e dupla, o que dava um caderninho de quatro páginas. Na primeira, eu desenhava uma espécie de logotipo que ficava no topo e se lia “Folha da Casa”. Ali também ia uma manchete, sempre algo relevante que estava acontecendo na família — uma visita da avó, por exemplo. Também havia outras pequenas chamadas para algum assunto quente que eu copiava do jornal do pai. E os cartazinhos da programação de cinema, claro.

Não sei o quanto isso me influenciou na escolha, mas o fato é que, menos de 10 anos depois, lá estava eu me matriculando na Faculdade Cásper Líbero para cursar Jornalismo.

Foi uma grande mudança, em todos os sentidos. Deixei o interior de São Paulo para viver na capital, troquei uma cidade de pouco mais de 30 mil habitantes por outra de quase 12 milhões! Não me arrependo, porém. Conheci ótimas pessoas, excelentes profissionais e — o melhor de tudo — aprendi muito sobre muitas coisas.

Depois de quatro anos de aulas, exercícios e alguns estágios, como o que fiz por três anos na Gazeta Esportiva.net, me tornei jornalista profissional. Como prova final, apurei e escrevi um livro-reportagem sobre o Cine Marabá. Como formado, passei pelos sites da revista Consumidor Moderno e da Rádio Capital AM, duas grandes experiências que me aproximaram ainda mais do jornalismo feito na internet, outra paixão de adolescência.

Nessa mesma época pós-faculdade, decidi seguir estudando e encontrei o Jornalismo Literário, uma modalidade pouco difundida no país, mas muito instigante de aprender, produzir e consumir. Durante dois anos, ouvi, aprendi, fiz amigos que seguem comigo até hoje e pratiquei um pouco do chamado “JL”.

No curso, foram três grandes reportagens das quais me orgulho muito: a história de um cineclube de filmes em 16mm, bitola praticamente extinta; o perfil de um simpático vendedor de doces da rua Javari, estádio do Juventus-SP; e o perfil de um taxista que resolveu inovar e apostar em marketing e atendimento para se diferenciar da concorrência.

Em 2010, voltei a trabalhar com jornalismo esportivo, desta vez por um período pré-definido de seis meses, no megaportal Terra, para a cobertura dos Jogos Olímpicos de Inverno. De lá, emendei outro trabalho temporário de três meses no portal ESPN.com.br, para reforçar a equipe na cobertura da Copa do Mundo de Futebol. Nos dois casos, tive experiências e fiz amizades incríveis.

Em 2011, fui contratado pela Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER) para produzir conteúdo sobre o mercado de revistas aos associados, por meio de uma newsletter e de atualizações do site. Foram quatro anos de muito aprendizado sobre o setor, já que também participei dos bastidores de inúmeros workshops e congressos promovidos pela entidade.

Em 2015, senti que era hora de iniciar um novo ciclo. Apesar das dificuldades do mercado jornalístico, tomei a decisão de me lançar como freelancer em tempo integral. Desde então, venho produzindo reportagens para revistas customizadas e sites, fazendo a gestão de redes sociais para entidades do terceiro setor e tocando meus projetos pessoais, entre eles o Última Divisão, site sobre futebol alternativo, que mantenho desde 2008 com outros amigos jornalistas.

Esse período tem sido riquíssimo em vários sentidos, especialmente na possibilidade de exercitar habilidades e percorrer novos caminhos. Apesar da instabilidade inerente à profissão, sinto que ainda posso ser muito útil como jornalista (e comunicador, principalmente). Projetar o futuro não é nada fácil, mas sempre que me lembro dos tempos de “Folha da Casa”, fico tranquilo em saber que a comunicação é o meu caminho.

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